Esp@ço Aberto

- ENTREVISTA COM DR. RICARDO CÉSAR FERNANDES PINTO -
DELEGADO DE POLÍCIA 
Dr. Ricardo César Fernandes Pinto
Esp@ço Falcão:   A quanto tempo o senhor é Delegado de Polícia?

Dr. Ricardo: Sou Delegado há 22 anos.

Esp@ço Falcão:   Por quais Delegacias do Estado o senhor já atuou?

Dr. Ricardo: Atuei na 74ª DP, 76ª DP, 09ª DP, 37ª DP, 25ª DP, 78ª DP, 77ª DP e 81ª DP.

Esp@ço Falcão:   Em que ano o senhor assumiu a titularidade da 152ª DP e que balanço faz do seu trabalho desde que assumiu a Delegacia de Duas Barras?

Dr. Ricardo: Assumi esta unidade no ano de 2003 e até então o saldo tem sido positivo, bastante satisfatório.

Esp@ço Falcão:   Quais as maiores dificuldades que o senhor enfrenta na 152ª DP? O quantitativo de policiais e viaturas que o senhor dispõe é suficiente em sua unidade?

Dr. Ricardo: Temos um quantitativo de viaturas suficiente na delegacia, porém nos falta mais policiais. Esta é a dificuldade que enfrento: a falta de servidores.

Esp@ço Falcão:   O que o senhor tem a dizer de sua equipe de trabalho?

Dr. Ricardo: São bons profissionais, porém alguns necessitam de um maior estímulo, uma maior motivação.

Esp@ço Falcão:   Diversas operações são realizadas pelos seus agentes, todas com sucesso. A que o senhor atribui esta positividade?

Dr. Ricardo: Ao conhecimento do território que atuam e empenho de nossa equipe.

Esp@ço Falcão:   Com a estrutura que dispõe hoje as Delegacias Legais do Estado do Rio de Janeiro, em especial Duas Barras, o senhor acha que a população se sente mais segura?

Dr. Ricardo: Sim, porque o sentimento de segurança vai muito além da questão policial.

Esp@ço Falcão:   O senhor acredita que a repressão aos criminosos na capital faz com que eles migrem para o interior?

Dr. Ricardo: Não, porque são especificidades diferentes.

Esp@ço Falcão:   Qual o grande problema da segurança, hoje, no Rio de Janeiro?

Dr. Ricardo: A manutenção dos territórios conquistados.

Esp@ço Falcão:   Quanto o senhor acha que seria necessário de investimento anual na Segurança Pública do Estado para um bom trabalho das Polícias Civil e Militar?

Dr. Ricardo: Não posso precisar o quanto pois não disponho de dados para tal.

Esp@ço Falcão:   O senhor é a favor da unificação das Polícias Civil e Militar? Por quê?

Dr. Ricardo: Sim. Porque as ações seriam mais ofensivas. Teríamos dois segmentos: um uniformizado atuando na prevenção e outro atuando na investigação, ambos geridos pela Autoridade Policial.

Esp@ço Falcão:   Em 2010, quando a polícia fez a retomada do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, a população voltou a acreditar na efetividade policial. Porém, estamos vendo, constantemente, o envolvimento de policiais com a milícia, tráfico e afins. Como acabar com esses “maus” policiais?

Dr. Ricardo: Colocando os bons em seu lugar, valorizando o trabalho policial em sua totalidade.

Esp@ço Falcão:   Como o senhor avalia o trabalho da Chefe de Polícia, Dra. Martha Rocha?

Dr. Ricardo: Excelente.

Esp@ço Falcão:   Muitos de nossos jovens e adolescentes sonham e vão para a cidade grande em busca de trabalho e qualificação profissional e muitas vezes, acabam se envolvendo com as drogas e a criminalidade. Que recado o senhor daria para esses jovens?

Dr. Ricardo: Tenham um objetivo claro para a sua vida inteira. A droga é o sonho químico. O sonho / aspiração deve guardar relação com a realidade.

Esp@ço Falcão:   Finalizando, que mensagem o senhor deixa para o povo de Duas Barras?

Dr. Ricardo: Cuidem de sua cidade, dando o exemplo. Exijam seus direitos, mas antes cumpras suas obrigações, especialmente com seus filhos.
Sejam felizes! A felicidade é um arado, um sentimento e não apenas conquistas materiais. Que Deus os abençoe!!!

Dr. Ricardo e alunos da Escola Municipal Ex-Combatente Amancio Pinto - palestra sobre drogas
(Foto: Paulo Toscano)


x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x

- ENTREVISTA COM PADRE JORGE GETÚLIO MOREIRA -Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição - Duas Barras, RJ


Esp@ço Falcão: Há quanto tempo o senhor é Sacerdote e quando surgiu o desejo, a vocação de ser Padre?
Pe. Jorge Getúlio: Eu fui ordenado Sacerdote no dia 14 de maio de 1994 e tenho 17 anos de Sacerdócio. O meu desejo de se tornar Sacerdote veio aos 7 anos de idade, quando fiz minha Primeira Comunhão. Depois comecei ser acompanhado pelo meu Pároco da minha Paróquia, na Catequese e também pela minha família no incentivo e, aos 15 anos, fui para o Seminário.


Esp@ço Falcão: Por quantas Paróquias o senhor já passou desde sua Ordenação?
Pe. Jorge Getúlio: A minha primeira Paróquia foi como Diácono e foi a Paróquia de Nossa Senhora da Glória, em Macaé. Eu fui Diácono Regente de janeiro a maio de 1994 e logo após me tornei o primeiro Administrador Paroquial daquela Paróquia. Em outubro eu saí e assumi a Paróquia de Glicério (Paróquia Nossa Senhora das Neves), também em Macaé. Por lá, fiquei quatro anos e depois fui transferido para a Paróquia de Nossa Senhora do Carmo.
  
Esp@ço Falcão: A Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, em Carmo-RJ, foi a comunidade que o senhor passou mais tempo. Como está sendo essa mudança para Duas Barras?
Pe. Jorge Getúlio: A mudança está sendo boa, porque cheguei a conclusão de que um Pároco não deve ficar muitos anos numa Paróquia, porque ela (Paróquia) acaba se acomodando e pode acomodar os fiéis. Eu dei o máximo de mim lá no Carmo, nas Pastorais, na Paróquia, e estou sendo muito feliz também aqui em Duas Barras, estou conhecendo a dimensão nova de ser Igreja, com um olhar diferente, com rosto diferente, mas com a mesma meta que é buscar Jesus Cristo, principalmente nas pessoas mais simples.

Esp@ço Falcão: E como foi o convite para assumir a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição? Como está sendo essa adaptação a nova realidade? Existia interesse, no momento, em deixar o Carmo?
Pe. Jorge Getúlio: No momento eu relutei em deixar a Paróquia por causa das obras que estava fazendo, dos trabalhos pastorais, mas depois fiz uma análise, pensei bem e resolvi repensar sobre minha vocação, onde o Padre assumi uma missão de servir o povo de Deus numa determinada Paróquia. Então estou assumindo com muita alegria a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, assumindo esta missão que é nova, uma nova realidade e já estou me adaptando. Aqui o povo é muito acolhedor e eu percebo que é um povo muito religioso.

Esp@ço Falcão: O senhor deixa sua família. Como está sendo esta lacuna em relação aos familiares?
Pe. Jorge Getúlio: Olha, a minha família... Bem, eu nasci em Senhora dos Remédios, Minas Gerais. Meus pais ficaram comigo em Carmo por um ano e meio, ficaram na casa paroquial devido a saúde de meu pai e também da minha mãe. Mas eles estão bem agora, estão morando na residência deles no Carmo, residência da família, onde acompanho de perto, por telefone, visitas... Segundo o Evangelho, a gente tem que colocar Jesus acima da família, é muito importante. Mas claro, não deixando de atenção também aos seus. Eu sou muito família, tenho dois irmãos que moram em Carmo e ficam lá nos finais de semana e uma irmã que mora em Macaé. Quanto a nossa terra natal, Remédios, sempre que podemos, vamos fazer uma visita e descansar um pouco lá, em nosso sítio.

Esp@ço Falcão: Padre Wander, em seus oito anos de comunidade, tinha como meta a reforma da Igreja Matriz. O senhor prentende dar continuidade a reforma do templo? De que forma?
Pe. Jorge Getúlio: Claro que eu vou dar continuidade à reforma da Igreja, vou seguir as metas que o Padre Wander deixou. Como pretendo dar continuidade, eu ainda não sei. Estou buscando respostas. Vamos organizar um Conselho Administrativo, vou contatar a Michelin (empresa de pneus) para ajudar a gente e vou contar também, claro, com a comunidade, sem onerar muito as pessoas, pois a gente vive numa crise financeira muito grande. E a forma? Eu não sei ainda! Estou chegando agora na Paróquia e estou conhecendo. Eu não posso dizer exatamente o que vou fazer. Devemos montar um projeto, claro, e tentar captar recursos para a restauração interna da Igreja. É uma Igreja muito bonita e precisa ser muito bem cuidada. A restauração é demorada e eu pretendo, realmente, dar continuidade a esse trabalho de reforma, mas também muito preocupado em reformar os templos (pessoas - essa parcela do povo de Deus aqui da cidade), com as Pastorais, unidos, celebrando o amor, a caridade que também é muito importante. Como disse Jesus um dia na vocação de Francisco: “Reconstrói minha Igreja”. E eu venho também com este propósito.

Esp@ço Falcão: O senhor cita as Pastorais. E em relação as Pastorais, existe algum projeto para Duas Barras, de reativação, de continuidade? Que projetos o senhor tem em relação as Pastorais, na Paróquia?
Pe. Jorge Getúlio: Eu pretendo continuar animando as Pastorais que existem e claro, criar novas Pastorais, necessárias para a Igreja, como por exemplo: a equipe do Dízimo, da Acolhida, a Pastoral Lutando pela Vida que a Pastoral da AIDS, a Pastoral as Exéquias e também organizar um Curso de Liturgia para dar formação para as pessoas. É o que estou pensando.

Esp@ço Falcão: E quanto aos movimentos da Igreja? Hoje nós temos a Caminhada de Emaús, RCC. O senhor é aberto a essas manifestações de Fé? Como é a relação do Padre Jorge Getúlio com esses movimentos na comunidade?
Pe. Jorge Getúlio: Olha, eu tento acolher a todos na comunidade, afinal eu sou Pastor e o pastor tem que dar a vida pelas ovelhas. É muito importante a gente pensar que o Padre não deve estar envolvido com nenhum movimento, mas ele deve animar os movimentos da Igreja. Claro que eu tenho uma abertura muito grande para acolher a Caminhada de Emaús, a RCC e qualquer outra manifestação de Fé na comunidade, pois eu devo ser um animador, um incentivador da caminhada, dos movimentos, das pastorais. O Espírito Santo, Ele sopra onde quer e eu estou muito aberto a essa ação do Espírito Santo na minha vida, na vida da comunidade, dos movimentos e das pastorais também.

Esp@ço Falcão: E como é o relacionamento do Padre Jorge Getúlio com as demais denominações religiosas de um município?
Pe. Jorge Getúlio: Eu tenho um espírito bastante ecumênico e um diálogo também inter-religioso. Depois que eu me organizar melhor, eu quero entrar em contato com Pastores e outras igrejas para a gente possa organizar um culto ecumênico e se conhecer. Devo também fazer algumas visitas. Por enquanto eu ainda não pensei de que forma vou começar, mas sou um Padre muito aberto ao ecumenismo e também ao diálogo inter-religioso, afinal é a proposta do Vaticano II.

Esp@ço Falcão: Durante o tempo que o senhor esteve no Carmo, muitos cursos foram ministrados: Liturgia, Batismo, entre outros. Existe o desejo de sua parte em promover esses cursos em Duas Barras? Que proveito a comunidade pode tirar com esses aprofundamentos?
Pe. Jorge Getúlio: Claro que vamos organizar cursos: de Liturgia, Batismo, também quero dar apoio a RCC, trazendo pessoas da Canção Nova para fazer um trabalho de Evangelização. E o que é que eu penso? Vamos organizar esses cursos, curso para Leitor, para Comentarista, Curso de Canto Pastoral que é o meu desejo, não só na Matriz, mas também nas Comunidades (Capelas). Uma coisa que vou lutar muito é para fomentar a comunhão das Comunidades com a Matriz e também priorizar, na medida do possível, aquelas comunidades mais distantes para que eu possa levar a Palavra de Deus. O que a comunidade vai tirar proveito? Bem, a gente não ama aquilo que não conhece. Então, as comunidades (Matriz e Capelas), ao participarem de cursos e outros eventos, vão amar mais a Igreja e vão servir melhor a Igreja de Jesus Cristo, que somos nós, povo de Deus.
Esp@ço Falcão: Hoje o mundo oferece caminhos diversos para nossos jovens. Como nossos jovens e adolescentes poderiam vivenciar sua juventude de forma saudável de acordo com os critérios cristãos?
Pe. Jorge Getúlio: Realmente o mundo oferece propostas enganadoras aos nossos jovens. Temos de nos preocupar muito no Brasil, pois a gente tem observado um índice muito grande de jovens que se suicidam, outros que são mortos por roubos, ao saírem de bailes... Os jovens estão tendo suas vidas  ceifadas. O que tenho a dizer? A Igreja precisa se preocupar mais com os jovens, anunciar o Evangelho para eles, mas também pensar que a família é a base, é a meta de tudo. Os pais que freqüentam a Igreja, que prezam por valores cristãos, devem orientar os seus jovens desde criança e, ao chegarem à juventude, manter com eles um diálogo aberto, comprometido, de mostrar o caminho de Deus para seus filhos. E quais são os critérios cristãos? A Catequese, a leitura da Bíblia, a participação da Missa, interar o jovem na comunidade, nas pastorais da Igreja. Isso vai dar resultado! Não é preciso formar um Grupo de Jovens, mas que o jovem esteja presente em toda ação da Igreja. Eu olho o jovem com muita esperança, um olhar de esperança, um olhar de alegria, também um olhar de confiança, e peço a Deus que as propostas que o mundo oferece, que muitos possam abrir seus olhos e se converterem e romper com tudo isso, pois são propostas ilusórias, passageiras, que não levam a nada, somente a perdição, ao desânimo, ao desgaste físico, afetivo, intelectual...
 Esp@ço Falcão: Que princípios as famílias devem seguir para não serem influenciados de forma negativa em sua missão cristã?
Pe. Jorge Getúlio: João Paulo II escreveu uma encíclica muito importante sobre a Família Cristã, chamada “Familiares Consortium”. A família é a base de tudo na sociedade. Se uma família está em crise, a sociedade estará em crise. Portanto, a família, o esposo, a esposa, deve procurar passar valores éticos, morais e cristãos também para seus filhos. Essa é a esperança que nós temos. Senão, de que forma nós podemos falar de uma missão cristã se uma família não freqüenta a Igreja, não reza junto, não lê a Palavra de Deus? Então, que princípios eu devo passar para as famílias? Freqüentar a comunidade e organizarmos, também, a Pastoral Familiar aqui na Paróquia. A gente sabe que é um desafio muito grande na Igreja, mas se não investirmos nas famílias, o que será do futuro, amanhã? Porque se tivermos famílias em crise, teremos também uma Igreja em crise. Então a família que se baseia, que se estrutura, que se alicerça na Palavra de Deus, tendo Jesus Cristo como meta e também a Família de Nazaré como modelo, essa família vai assumir uma missão muito nobre na Igreja e dar muitos resultados, trazer muitos frutos para nossa comunidade.
Esp@ço Falcão: Jesus, em vida, lutou muito por mudanças sociais e foi perseguido e morto por isso. Nos dias de hoje, como lutar por mudanças sociais sem perder o princípio de unidade entre as pessoas?
Pe. Jorge Getúlio: Realmente é uma pergunta bastante difícil para ser respondida. Jesus deu a vida por nós e Ele rompeu com todas aquelas estruturas de morte do seu tempo. Ele teve vários enfrentamentos com saduceus, fariseus, doutores da lei e sobretudo com os reis daquele tempo. A gente poder citar: ele enfrentou muito os representantes do Império Romano, Herodes, Pilatos e tantos outros... E qual foi a radicalidade de Jesus? Foi dar a vida por nós, vivenciando o amor. Nos dias hoje, que mudanças sociais podem acontecer? Tendo como meta Jesus Cristo, um amor profundo à Igreja e também a convicção de lutar para promover as pessoas em sua dignidade humana, isso é muito importante, sem perder o princípio de unidade. Por que isso? Porque somos cristãos, então, nós Católicos e pessoas de outras denominações cristãs, seja Batista, Igreja Metodista, Assembléia de Deus, devemos dar as mãos nesta unidade, unidade tão sonhada e querida por Jesus. Claro que as doutrinas são diferentes, mas podemos dar as mãos e termos a resposta de um “SIM” juntos, lutando para ajudar pessoas carentes, lutando contra o alcoolismo que abrange tantos jovens, as drogas que estão aí e sabemos disso. Quantos jovens bons e de família que estão envolvidos... Então é preciso que a gente dê as mãos, que a gente faça alguma coisa para que mude um pouco esse rosto tão sofrido que a gente vê na sociedade, de degradação moral e social. Tantos jovens tomados pelos vícios, a separação de casais que traz muito sofrimento, o adultério e tantos outros. Não estou aqui para julgar ninguém, mas se não anunciarmos o Evangelho com radicalidade e com amor e as pessoas não assumirem isso na vida, a gente não vai ver nenhuma mudança social, porque Jesus anunciou a Palavra de Deus, ele pregou a Boa Nova do Reino e também se preocupou em alimentar quem estava com fome, tanto que multiplicou os pães. E Ele ensinou naquela multiplicação dos pães, a partilha. Então, a gente sonha com uma sociedade onde haja menos corrupção, onde haja mais partilha. Acredito que por aí haverá mudanças sociais. Claro, partindo de nós, em primeiro lugar, de mim Padre, que devo fazer algo pela sociedade, não só ficar esperando para que outro faça, mas devo dar o primeiro passo. Assim, de mãos dadas e unidos, vamos construir um mundo melhor. Tenho certeza disso!

Esp@ço Falcão: O que significa crescimento espiritual e como buscá-lo?
Pe. Jorge Getúlio: Bem, para um bom crescimento espiritual, você deve procurar se aprofundar na doutrina cristã da nossa Igreja. Onde você vai encontrar a fonte? No Catecismo da Igreja Católica, na Bíblia – Palavra de Deus e conhecendo melhor também os documentos da nossa Igreja. Nós temos documentos valiosos da Igreja, do Magistério. A Catequese também que é muito importante. É importante também que a gente pense em resgatar a Catequese para os adultos, pois temos uma mentalidade de catequese só para crianças, onde elas chegam a Crisma, depois param. Para que haja crescimento espiritual, devemos procurar nos alicerçarmos na Doutrina da Igreja, nos Documentos da Igreja, no Catecismo da Igreja Católica e também na freqüência aos Sacramentos, pois se você não procurar a Confissão, uma vida de Eucaristia, frequentar às Missas diárias, como haverá crescimento espiritual? Procurar o Padre para um aconselhamento ou um casal amigo que vive uma experiência bonita no casamento para aconselhar outros casais, um jovem que também esteja envolvido na Igreja para ajudar a resgatar aquele que está distante. Dessa forma você cresce espiritualmente, pensando não só na sua salvação, mas também na salvação do outro, afinal a gente reza “Pai Nosso” e não “Pai Meu”, o Pai é de todos. Esse crescimento espiritual está no compromisso também de ir ao encontro do outro, daquele que precisa, do irmão. Isso pra mim é ser comunidade, é ser Igreja.
Esp@ço Falcão: Considerando o mundo pós-moderno, dentro dos avanços tecnológicos, porém, com queda de valores humanistas, qual o caminho para o perdão e reconciliação em uma comunidade cristã?
Pe. Jorge Getúlio: Olha, o mundo pós-moderno nos ensina a não valorizarmos o ser humano, ele valoriza o “ter” e não o “ser”. A tecnologia avança a cada dia, sempre com uma novidade que surge e muitas das vezes o ser humano não consegue acompanhar os avanços tecnológicos, ele acaba se deixando influenciar por esses avanços enquanto nossas relações humanas ainda estão na “pedra lascada”. Peço desculpas pela expressão, se estou sendo um pouco grosseiro, mas é preciso resgatar os valores humanos dentro da sociedade, dentro de nossas famílias, inclusive dentro de nossas igrejas. Quando o homem se torna mais humanizado, surgem valores humanistas. E qual o caminho do perdão e reconciliação? É ter uma experiência com Cristo, a mística cristã do amor. Se você não tiver uma experiência com o Cristo Vivo, na Palavra, na Eucaristia, na Assembléia reunida, como você poderá perdoar alguém? Você só perdoa alguém quando você vive a experiência de Deus na sua vida, a experiência do perdão. Tanto que no Pai Nosso, nós rezamos: “Pai nosso que estás no céu” e a gente reza uma palavra muito bonita: “perdoai-nos” – o verbo é reflexivo, “as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Quer dizer, nós cristãos devemos ter sempre a disponibilidade de perdoar as pessoas e ajudá-las também a crescer na fé e a mudar de vida. Quanto à reconciliação, se nós vamos a Missa e a gente não perdoa quem nos ofendeu, ficamos relembrando o passado, preso ao passado e não olhamos pra frente... Devemos olhar para o futuro e vivenciar bem o presente. É desta forma que Deus olha a gente. Deus não olha o nosso passado, ele olha a nossa vontade de querer mudar, mudar de vida. Jesus quando encontrou aquela mulher (Madalena), e os fariseus a levaram até Ele, pois foi pega em adultério, eles disseram a Jesus que segundo a Lei de Moisés ela deveria ser apedrejada até a morte. Então Jesus fala para eles, fariseus, doutores: “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”. E foram saindo um por um, pois tinham a consciência de pecador. E Jesus fica com aquela mulher diz a ela: “Se ninguém te condenou, eu também não te condeno. Vá e não peques mais”. Nós devemos ter esta mesma mentalidade, esta atitude de Jesus, que foi sempre aberto ao diálogo, aberto ao perdão, aberto a abraçar as pessoas e mostrar o rosto diferente de Deus, o rosto da misericórdia, da ternura, da compaixão. É isso que precisa realmente melhorar e mudar nas nossas comunidades, principalmente nossas comunidades cristãs e em nosso setor de trabalho. E esse mundo pós-moderno não nos ensina isso! Ensina somente a massacrar o outro, a buscar valores passageiros, investir numa boa televisão, num bom carro, numa boa casa e esquece de investir nos valores humanos: o amor, a caridade, o respeito aos idosos, tratar com respeito a criança... Eu poderia citar diversos eventos, mas é preciso citar bem isso. Pense bem: como uma criança é tratada no Brasil? Como um jovem se comporta numa festa social? Como o idoso é tratado na sociedade? Quantos preconceitos com o idoso, com a criança, desrespeito a criança, a pessoa idosa? Vemos muito isso em nossa situação de Brasil. Nós, como cristãos, podemos mudar um pouquinho esse rosto, fazendo a nossa parte. É muito importante avaliarmos isso. E o mundo pós-moderno, o mundo da tecnologia, faz com que as pessoas se tornem frias, calculistas, fiquem dentro de suas casas, não visite, não converse com o outro, inclusive dentro da própria família: o pai não para pra falar com o filho, dialogar com a filha, com a esposa, não sentam juntos para uma refeição. É preciso revermos isso.

Esp@ço Falcão: O que significa, atualmente, viver a citação de Jesus: "O Reino dos Céus está no meio de vós"?
Pe. Jorge Getúlio: Quer dizer pra gente que a Boa Nova do Evangelho que Ele anuncia, traz pra gente uma proposta nova de libertação. Por que o Reino está no meio de nós? É a presença Dele, a presença, seja na Palavra, na Assembléia reunida, no Pão “Eucaristiado”, no irmão sofredor, assim o reino acontece. O Reino é a presença de Jesus transformadora. Nós não construímos o Reino, nós colaboramos na construção do Reino de Deus, que é a presença transformadora de Jesus em nosso coração, na nossa vida, na nossa sociedade. Isso é o Reino dos Céus estar no meio de vós. E é preciso que abramos nossos olhos para perceber esses sinais, esse Reino no meio de nós, visitando um doente, ajudando um pobre, como foi citado no Evangelho de domingo passado (20 de novembro): “estava nu e você meu roupa para vestir, estava com sede e você me deu água para beber, estava doente e você foi me visitar”. O Reino acontece desta forma, eu estava precisando de uma conversa amiga e você parou pra me ouvir, me deu atenção. Quando um velhinho está atravessando a rua eu paro o carro. É esse respeito que está faltando: deixo-o atravessar a rua ou o ajudo, uma criança no meio da rua, devo ter respeito por ela. O Reino vai acontecendo desta forma, nas pequenas coisas que fazemos. Um bom dia para alguém, com alegria, um sorriso, um abraço que você dá em alguém é a expressão de Jesus no meio de nós.

Esp@ço Falcão: Que mensagem o senhor deixa para os paroquianos, o povo de Duas Barras?
Pe. Jorge Getúlio: Estou chegando como Pastor desta comunidade, desta Igreja Católica. Percebo neste povo uma religiosidade muito grande, profunda, uma vontade de querer crescer na igreja, de assumir os compromissos nas pastorais e estou abraçando esta comunidade com muita alegria, com espírito de missão. Afinal, o Padre Diocesano deve ter esse espírito missionário de acolher a todos. E também orar pela comunidade para que não haja divisão, ciúmes, invejas, rixas, brigas... Porque isso não é o propósito de Jesus. Que a gente aprenda a respeitar o outro, a caminhar com o outro, a ajudar o outro a crescer, isso é ser comunidade. Eu tenho uma esperança muito grande de dar continuidade ao trabalho de tantos padres que já passaram por aqui, respeitá-los, rezar por eles, nunca criticá-los, pois ninguém é perfeito, só Jesus é perfeito, mas viver a proposta do amor. Jesus, na última ceia disse o seguinte para seus discípulos: “Eu vos dou um Novo Mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei”. Então, a proposta é de amar! Obrigado a todos pelos acolhimento e pelo carinho e vos abençôo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, Amém!

O Esp@ço Falcão agradece o carinho e acolhimento do Padre Jorge Getúlio Moreira ao conceder entrevista de estréia da coluna Esp@ço Aberto.

Data: 25 de novembro de 2011.

Um comentário:

  1. Graças A Deus Duas Barras recebeu um padre ungido por Deus. Peço a Deus que que ele esteja conosco sempre.Sabedoria, discernimento, unção e vontade de fazer a vontade de Deus ele tem.
    Louvado seja o nome de JESUS.
    Carla.

    ResponderExcluir